sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Controle da Erosão em Praias Arenosas pelo Método de Recifes Submersos: Praia Brava de Matinhos – PR

A maioria dos projetos de proteção costeira funciona como mitigadora dos efeitos da erosão, isto é, não atacam diretamente o agente causador da erosão. Por exemplo, Rochas/Muros de Contenção, Quebra-Mares ou Espigões ao longo de praias arenosas, atuam apenas abrandando os efeitos da erosão costeira. Os resultados finais na linha de costa muitas vezes não condizem com a proposta inicial, necessitando periódicas manutenções e modificações que são mais dispendiosas do que os projetos iniciais. A Praia Brava de Matinhos é um bom exemplo, há muito tempo sofre com a erosão e com as respectivas tentativas ineficientes de solução para o problema (Fig. 1).

Figura 1: Visão panorâmica do trecho extremo norte da Praia Brava (centro) e registro fotográfico da erosão no local (superior e inferior). Notar placa notificando a área com risco desabamento e casa próxima à área de risco.


Por outro lado, recifes submersos próximos à costa produzem impacto benéfico na estabilidade costeira. Os recifes atuam como uma barreira natural dissipando a energia das ondas. Como resultado deste processo, saliências costeiras são presentes a retaguarda de recifes costeiros[1] (BLACK, 2003) (Fig. 2). O crescimento de uma saliência na costa conduz ao aumento da estabilidade da zona costeira. Desta forma, a introdução de estruturas submersas próximas à costa, pode proporcionar uma solução de proteção costeira que simula os efeitos produzidos por recifes naturais. Este método de proteção costeira atinge a causa da erosão costeira na sua forçante maior no sul do Brasil: as correntes ao longo da costa originadas por ondas de eventos como tempestades e ressacas. O procedimento consiste na modificação da batimetria local, de maneira que ocorra a mudança pontual da direção predominante do trem de ondas incidente. A modificação batimétrica é realizada através da construção de um recife artificial, com tamanho e formato pré-determinados. O trem de ondas ao interagir com a estrutura sofre os processos físicos de refração, empinamento, e quebra na região menos profunda. Como conseqüência desta quebra, a energia das ondas é dissipada, reduzindo assim a velocidade da corrente costeira e o transporte de sedimento na parte abrigada pela estrutura. O realinhamento do trem de ondas no ponto de quebra, bem como a dissipação de sua energia em uma região próxima à costa, resulta na redução do fluxo da corrente ao longo da costa e no incremento da sedimentação a retaguarda do recife. Com isso, haverá o desenvolvimento de uma saliência costeira que, por sua vez, irá interromper o processo erosivo no local abrigado pela estrutura (ver modelo esquemático de desenvolvimento de saliência costeira na postagem de outubro).

Figura 2: Saliência costeira na parte abrigada pelo recife submerso. Foto: Lakes Beach, Noraville, Austrália (Black e Andrews, 2001).


A construção de um recife artificial submerso pode reduzir e interromper o problema erosivo da Praia Brava de Matinhos. A efetivação deste tipo de projeto só ocorre quando estudos de campo e de laboratório são realizados previamente. O entendimento prévio dos processos físicos e geológicos que governam a região é indispensável para que os objetivos do projeto sejam alcançados. O tamanho e formato da saliência devem ser obtidos anteriormente para se avaliar os impactos ambientais e orientar o gerenciamento costeiro. Projetos mal administrados podem levar a formação de tômbolo (união entre a estrutura e a costa), o qual age como uma barreira para o transporte dos sedimentos costeiros. Por outro lado, nos projetos bem administrados, uma lacuna entre a estrutura e a praia é mantida para permitir o transporte natural de sedimentos ao longo da costa. Esta metodologia pode ainda agregar valores para benefício da comunidade local, ou seja, estas construções costeiras podem ser realizadas incorporando opções de uso múltiplo como: habitat para organismos marinhos, local para a prática do surfe, mergulho, natação segura, pesca comercial e recreacional (BLACK et al.; apud BLACK e MEAD, 2001). Estas estruturas podem ser projetadas para proporcionar qualquer tipo de quebra de onda para a prática do surfe e, além disto, possibilitam também o seu uso mesmo em dias em que não ocorre ondulação na costa, promovendo a interação entre os praticantes de esportes aquáticos e turistas.

[1] Retaguarda de recifes costeiros: Área abrigada pelo recife voltada para a costa.


Leia o trabalho completo em:


http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/16416/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20-%20Marcos%20Gandor.pdf


3 comentários:

FILIPERA disse...

Grande Brother,
O método de recifes artificiais pode conter o avanço do mar em várias cidades costeiras brasileiras que já sofrem com esse problema. Já fiz matérias e m várias delas e o mar tá tomando conta mesmo. Com certeza, isso precisa ser mais divulgado e nossos gestores públicos devem olhar com mais carinho esse problema.

Abração, adorei o Blog!!!! Inclusive a parte da "Onda Perfeita"!!

TyroneVmaker disse...

Aêeee Gandoorrr!!!
Muito interessante esta alternativa a erosão. Como comentou o Filipão, este é um problema seríssimo em boa parte do nosso litoral. Parabéns pela iniciativa e boa sorte na concretização deste maravilhoso projeto. Grande abraço meu irmão!

Luciana Brito disse...

Tem registro de dados atualizados publicados referentes aos processos erosivos instalados nas praias da região depois de 10 anos? Esses tipos de recifes artificiais já foram implementados em outras regiões do Brasil, com resultados positivos de boa prática socioambiental?