sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Recifes Artificiais para o Surfe: definitivamente uma necessidade!


Mount Reef, Nova Zelândia.


O interesse em produzir quebra de ondas ideais para a prática do surfe artificialmente tem aumentado em resposta ao aumento do número de surfistas. Segundo estimativas[1], hoje são no mínimo 10.000.000 de surfistas ativos espalhados pelo mundo inteiro juntamente com uma multimilionária indústria de artigos de surfe. Este fato causa o aumento da pressão popular para que a prática do surfe ocorra em mais locais com condições excelentes, provocando deste modo uma forte demanda por qualidade de ondas. O esporte surfe requer uma alta qualidade de quebra de ondas para progredir.

O elevado número de surfistas disputando lado a lado as ondas em um mesmo espaço (crowd) tende a prejudicar o nível de surfe do local, sendo também o principal agente responsável por desavenças entre os surfistas. Segundo estudos realizados sobre este assunto, o crowd traz como conseqüência o incremento da insatisfação para com o esporte. A construção de Recifes Artificiais para o Surfe (RAS) pode resolver este problema e proporcionar outros tipos de recreação em sua área (ex: mergulho turístico e pesca recreativa).

A cidade de Balneário Camboriú (BC), no litoral centro-norte de Santa Catarina, vem ao longo dos tempos produzindo surfistas de alto nível. Um bom exemplo deste fato é o surfista Teco Padaratz, bicampeão mundial de surf (WQS) no ano de 1999. Teco e seu irmão Neco Padaratz (atualmente no WCT) são naturais de Blumenau e aprenderam a surfar nas ondas de BC. Além disto, a cidade possui boas escolas de surfe que proporcionam oportunidade de vida para muitas crianças e adultos. Segundo censo IBGE (2004) a população de BC está estimada em 90.000 pessoas, sendo que nos meses de verão (Dezembro, Janeiro e Fevereiro) esta população aproximadamente triplica em média (270.000 pessoas). Muitos destes turistas, na verdade, são surfistas em potencial que utilizam a praia de BC não somente para o tradicional banho de mar, mas também para aprender surfar. Desta forma, no período de férias de verão, a população de surfistas em BC aumenta seguindo no mínimo as mesmas proporções do censo do IBGE (2004), superlotando a área de surfe na enseada e prejudicando o nível de surfe local. É correto afirmar que o turismo do surfe traz benefícios econômicos à cidade. Mas, é preciso lembrar também que este turismo em BC está muito a quem do que pode render a comunidade do surfe local. Como exemplo, podemos citar o turismo do surfe em Jeffrey´s Bay na África do Sul, que foi responsável por tornar esta praia mundialmente famosa. A cidade lembra um pouco as californianas Santa Cruz e Santa Bárbara que também vivem do surfe. Praticamente tudo gira em torno do surfe. As lojas, os restaurantes, os hotéis e, óbvio, as pessoas. Mesmo quem não gosta de surfar se entusiasma em permanecer horas em algum mirante observando as ondas e os esportistas[2]. Neste caso, foi necessário um planejamento adequado com a participação da população e da associação de surfe local. Somente desta forma o turismo do surfe pode ser devidamente implantado para o benefício da comunidade.

Aproveitando a natureza para o benefício do surfe local

Existem pontos próximos a costa em que já existem quebras de ondas proporcionadas por fundos rochosos. Na grande maioria destes pontos ocorre apenas a quebra pontual da onda, e, portanto, sem condição para “correr a onda” e praticar o surfe. A modificação coerente da morfologia do fundo destes locais pode proporcionar a quebra de ondas perfeitas e extensas para a prática o surfe. No litoral centro-norte de Santa Catarina, existem vários pontos próximos a costa em que uma pequena modificação do fundo pode proporcionar quebras de ondas perfeitas para o surfe. Dentre os pontos com esta característica na região, um se destaca por sua distância da praia (cerca de 1km) e grande área de extensão. O “parcel”, como é conhecido, possui alto potencial para o surfe em BC. O local possui embasamento rochoso (fundo de pedras) que se estende por uma área correspondente a 1 km². Porém, no “parcel” existe apenas uma quebra de onda (esquerda) para a prática do surfe que ocorre somente em eventos extremos com ondulações acima de 2 metros. Para melhor aproveitamento deste local, uma proposta seria produzir artificialmente outras quebras de ondas para o surfe na área do parcel. Estas quebras não aconteceriam apenas em ondulações acima de 2 metros, mas também com ondulação a partir de 0,5 metro. A implantação de RAS nesta área pode aumentar a surfabilidade do local criando novos pontos de surfe na enseada de BC.


Outro ponto a ser salientado é que recifes submersos próximos à costa produzem impacto benéfico na estabilidade costeira. No caso de um possível projeto de alimentação artificial da faixa de areia da praia de BC, os recifes atuariam como uma barreira natural dissipando a energia das ondas e protegendo o alargamento da praia. A construção de um recife artificial submerso associado a um projeto de alimentação artificial da faixa de areia poderia resolver o problema erosivo da praia de BC. Segundo o cientista e empresário do surfe Kerry Black, o realinhamento do trem de ondas no ponto de quebra, bem como a dissipação de sua energia em uma região próxima à costa, resulta na redução do fluxo da corrente ao longo da costa e no incremento da sedimentação a retaguarda dos recifes costeiros[3]. Desta maneira, ocorre o desenvolvimento de uma saliência costeira que, por sua vez, interrompe o processo erosivo no local abrigado pela estrutura (Fig. 1). O crescimento de uma saliência na costa conduz ao aumento da estabilidade da zona costeira[4].

Figura 1: Modelo esquemático dos processos provocados pelo recife artificial. Realinhamento das cristas de ondas e formação de saliência costeira.


A efetivação deste tipo de projeto só ocorre quando estudos de campo e de laboratório são realizados previamente. O entendimento prévio dos processos físicos e geológicos que governam a região de implantação é indispensável para que os objetivos do projeto sejam alcançados. Estas construções costeiras podem ser idealizadas incorporando opções de uso múltiplo como: proteção costeira, habitat para organismos marinhos, local para a prática do surfe em diversos níveis, mergulho, natação segura, pesca comercial e recreacional. Em relação ao surfe em diversos níveis, significa que as estruturas podem ser projetadas para proporcionar qualquer tipo de quebra de onda desejada (tubular, rápida, intermediária e lenta) atendendo, portanto todos os diferentes níveis surfistas.


Existem muitas alternativas sustentáveis e ecologicamente corretas para solucionar problemas costeiros. As tecnologias de recifes artificiais submersos para a quebra de ondas perfeitas para o surfe, bem como para proteção de praias, já estão disponíveis para aplicações estratégicas. Estas estruturas são consideradas o futuro do surfe (aumento de número de locais para a prática com alta qualidade de quebra de ondas) e também da proteção costeira. Antigas metodologias de proteção costeira utilizadas, como muros de contenção, molhes e espigões, não interrompem de forma eficiente o processo de erosão praial. Conseqüentemente, o dinheiro público é muitas vezes utilizado em constantes reparos nas obras costeiras (os reparos custam mais caro do que as obras iniciais). Por outro lado, é marcante o avanço e a utilização destas novas tecnologias no mundo. Países como a Austrália e Nova Zelândia, a muito tempo já utilizam a metodologia de RAS como forma de proteção costeira e também para benefício da comunidade (realização de campeonatos de surfe e etc). Portanto, a capacitação de pessoal e da indústria brasileira se faz necessária para que os recursos costeiros sejam desfrutados por todos e de forma e inteligente.


Locais com potencial para instalação de Recifes Artificiais para o Surfe (RAS) em Balneário Camboriú e região

Todos os locais que serão expostos aqui possuem embasamento rochoso (fundo de pedras). Estas áreas podem se transformar em verdadeiros “point breaks” com qualidade internacional de quebra de ondas para o surfe.

1- Área de Laranjeiras: Local de acesso pela praia de laranjeiras, onde ocorre a quebra de ondas para direita em ondulações de tempestades com direção sul e sudeste. No caso de instalação de um RAS pode proporcionar a quebra de ondas para a direita e esquerda (Fig. 2).

Figura 2: Ponta de Laranjeiras destacando a área de fundo de pedras (área pontilhada) com potencial de instalação de RAS (imagem Google Earth ®).

2- Área do Parcel e Área Praia do Coco: Locais de acesso pela praia de Balneário Camboriú. No Parcel ocorre a quebra de ondas para o surfe quando ondulações de tempestades atingem a costa (somente a esquerda do parcel). No caso de instalação de RAS neste local, toda a área pontilhada pode ser utilizada para quebras de ondas para o surfe (direita e esquerda). Já no canto da Praia do Coco ocorre a quebra de ondas para a direita e para a esquerda em ondulações de leste e nordeste respectivamente. Porém, na quebra para esquerda, duas pedras afloram no meio da parede. Este local pode proporcionar uma quebra de onda para direita com qualidade internacional de surfe (Fig. 3).

Figura 3: Porção norte da enseada de Balneário Camboriú e porção sul da Praia do Coco. Destaque das áreas de fundo de pedras (áreas pontilhadas) com potencial de instalação de RAS (imagem Google Earth ®).

3- Área da Praia dos Amores: Local de acesso pela praia dos amores. Pode ter melhor visualização pelo morro do Careca, rampa de decolagem de asa delta e parapente em Balneário Camboriú. No local ocorrem quebras de ondas em ondulações de tempestades nas direções sul e sudeste. No local mais afastado da ponta do morro do careca, também ocorre uma quebra de onda gorda (com pouca extensão) para a direita. Área com alto potencial de instalação de RAS com quebras de ondas para a direita e para a esquerda em diferentes níveis de surfe (Fig. 4).


Figura 4: Imagem do Morro do Careca e Praia dos amores em Balneário Camboriú. Área pontilhada com alta potencialidade de instalação de RAS (imagem Google Earth ®).

4- Área da Ilha do Atalaia: Local de acesso fácil pelas praias do Atalaia, Jeremias ou Cabeçudas em Itajaí. Também conhecido como “The Box”, o local proporciona uma quebra de onda para a direita em ondulações acima de 2 metros. A quebra para a direita acontece próxima a ilha na área pontilhada (Fig. 5). Porém esta quebra de onda não é extensa e demanda um nível de surfe relativamente alto para o praticante. No caso de instalação de um RAS, esta quebra de onda pode ser aumentada em extensão, bem como para ondulações a partir de 0,5 metro. Ocorre também uma esquerda no local da área pontilhada mais para o meio da praia do Atalaia, porém com pouca condição de surfabilidade. Este local também pode ser melhorado no caso de instalação de um RAS.

Figura 5: Imagem da Praia do Atalaia em Itajaí. Destaque para a área pontilhada com potencialidade de instalação de RAS (imagem Google Earth ®).


[1] Pitt, 1997 apud Mead e Black, 2001.
[2] Acesse: www1.folha.uol.com.br/folha/turismo/noticias.
[3] Retaguarda de recifes costeiros: Área abrigada pelo recife voltada para a costa.
[4] Kerry Black, 2003.

4 comentários:

Gabi disse...

Hello Baby

Voloquei um link do seu blog na pagina do meu blog... o pessoal gostou...

Bjs e Parabens!!

Gabi disse...

Coloquei...

Marcos Gândor disse...

Valeu Gabi!!

Eloin Travisani disse...

Excelente trabalho trabalho Marcos! É preciso acreditar nesse grande projeto em Itajaí.