quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Recifes Artificiais para o Surfe: um sonho ou uma necessidade?

Narrowneck Reef, Gold Coast - Austrália.

Criar quebras de ondas perfeitas artificialmente é um sonho que há muito circula nas mentes inquietas de surfistas ao redor do mundo inteiro. No Brasil, este assunto desperta grande atenção devido ao extenso litoral e inúmeros picos de surfe, que são em sua maioria proporcionados por bancos de areia (beach breaks). Hoje em dia, o sonho de criar ondas perfeitas se tornou realidade graças ao estudo de um neo zelandês que tem o surfe como instrumento de trabalho. Seu nome é Kerry Black, surfista e diretor da Artificial Surf Reefs (ASR), Marine Consulting and Research, empresa responsável pela implantação dos primeiros recifes artificiais para o surfe que realmente deram certo no mundo. O Professor Kerry Black é formado em Física pela Universidade de Melborne, Austrália, obteve mestrado pela Universidade do Hawaii e Phd em ciências da terra pela Universidade de Waikato, Nova Zelândia.

Na sua última passagem pelo Brasil, Prof. Black esteve em Itajaí – SC e participou do Congresso Brasileiro de Oceanografia (CBO 2004). No CBO Prof. Black realizou um mini-curso sobre recifes artificiais para o surfe e participou debate com outros professores sobre balanço de sedimentos costeiros (transporte de sedimentos). Além disto, realizou palestra para centenas de estudantes de oceanografia que participavam do congresso, onde divulgou seu trabalho na costa australiana. A ASR (Artificial Surf Reefs) é responsável pela implantação de um recife artificial na praia de Narrowneck, Gold Coast, Austrália, onde além de proporcionar quebra de ondas perfeitas para o surfe, teve como objetivo a proteção costeira contra a erosão. O recife artificial foi construído associado a um projeto de alargamento da faixa de areia. O recife diminuiu a energia das ondas (na área dos banhistas) e acumulou sedimentos na porção onde havia erosão na praia.

Os recifes artificiais para o surfe possuem funções agregadas ao projeto inicial, ou seja, é possível projetar um recife artificial não somente para produzir quebras de ondas perfeitas para o surfe, mas também para proteção costeira, repovoamento de espécies marinhas e local abrigado para esportes aquáticos. Em Narrowneck, o recife foi construído com aproximadamente 300 sacos de 3 tamanhos diferentes : partindo de 20 metros de comprimento e 3 metros de diâmetro a 20 metros de comprimento e 4,6 metros de diâmetro. Os sacos foram preenchidos com areia de mesma característica da praia.

Conversando pessoalmente com o Dr. Black, ocorreu a oportunidade de obter algumas informações sobre a possibilidade real de instalação de um surfing reef no Brasil. Segundo ele, falta o interesse efetivo dos tomadores de decisão para concretizar o projeto e também a participação efetiva da comunidade do surfe, que para Black, possui primordial importância em sua realização. Kerry Black salienta que o Brasil é um dos locais mais propícios do mundo para se obter um recife artificial para o surfe e proteção costeira. Isto devido à alta energia de ondas provenientes de sul e nordeste que chegam a costa brasileira, além dos poucos pointbreaks existentes no país. Black salienta ainda que, a existência de um número maior de pointbreaks (no caso recifes para o surfe) resultaria em mais competidores aptos a ganhar o campeonato mundial (WCT). “O Brasil tem surfistas de nível internacional, mas, poucos locais com qualidade internacional de quebra de ondas para treinar...” aponta Dr. Kerry Black. Países como Nova Zelândia, Austrália, Japão, Inglaterra e Estados Unidos já possuem, ou estão em vias de instalar, projetos de recifes artificiais o surfe. Surfando com Kerry Black em um mar com ondas 0,5 m em Balneário Camboriú (SC), não pude deixar de perguntar da possibilidade de instalação de um recife artificial para o surfe na enseada. Segundo Black, Balneário Camboriú possui todos os requisitos responsáveis para implantação de um projeto vitorioso pois, além de receber ondulações de alta energia de sudeste e leste, possui um sério problema de erosão costeira devido à inexistência de dunas frontais pela construção do calçadão e moradias próximas a linha de costa. Outro ponto levantado por Black é o grande potencial turístico da cidade que praticamente triplica sua população nos meses de verão trazendo muitos investidores, e por conseqüência aumentando arrecadação de impostos pelo governo municipal.

Portanto, para este sonho se tornar realidade em nossa praia, é necessário primeiramente, à união de toda a comunidade do surfe regional, na intenção de pressionar os tomadores de decisão em proporcionar mais oportunidades de vida para a população local. Balneário Camboriú é definitivamente um celeiro de atletas de alto nível, e a implantação de um recife artificial para o surfe (o primeiro no Brasil) faria com que a cidade se projetasse ainda mais a nível nacional e internacional. Deste modo, quem sabe, teremos gerações de campeões mundiais de surfe profissional. Surfe sempre.

3 comentários:

Rubartelly disse...

Grande Gândor! Inventivo como sempre, hein? Muito interessante a idéia dos recifes artificiais. Bem, sou totalmente leigo no assunto, mas vou tentar fazer uma pergunta sem falar besteira. Quanto ao impacto sobre o ecossitema marinho? Já li matérias sobre navios afundados usados como recifes artificiais e dos benefícios que isso representa para a biodiversisade, mas no caso dos recifes tão próximos, à praia? Há estudos realmente conclusivos sobre a dinâmica marinha dentro de uma intervenção deste tipo?
Abraços do seu amigo aqui de Brasília.

Marcos Gândor disse...

Grande Ruba!

Obrigado pela pergunta meu amigo...

Sim Ruba! A muito tempo se utilizam recifes artificiais próximos a praia visando o benefício da comunidade. Um exemplo bem simples são os recifes artficiais para evitar a pesca de arrasto. Diversos estudos sobre seus impactos foram já realizados inclusive no Brasil (favor visitar a página: http://www.marbrasil.org/marbrasil/ e buscar projeto de recifes anti arrasto). É bem verdade que a implantação de recifes artificiais para o surfe modifica a hidrodinâmica local, pois as ondas irão quebrar sobre o recife dissipando assim sua energia. Locais onde têm sérios problemas de erosão, podem ser beneficiados com a instalação dos recifes. Minha dissertação de Mestrado trata exatamente sobre esse assunto (já disponível em: http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/handle/1884/16416). Na Austrália, já existe um recife artificial (notar a foto desta primeira postagem)a 8 anos, sendo que desde a sua implantação vem sendo monitorado em todos os seus aspectos (químicos, físicos, geológicos, bilológicos, sociais, econômicos e etc...) por pesquisadores renomados. Os resultados do monitoramento foram sempre satisfatórios. Você pode ter acesso a um dos relatórios neste endereço: http://www.coastalmanagement.com.au/papers/SurfSymp2005-NNeck.pdf . Mas, é claro, projetos como esse demandam uma equipe multidisciplinar para avaliar e minimizar os impactos gerados.
Nas próximas postagens irei falar mais sobre os recifes em todas os seus aspectos e benefícios (ambiental, socioeconômicos e etc...), bem como citar exemplos. Não deixe de acompanhar. Grande Abraço.

Marcos Gândor

Unknown disse...

Marcos Gândor, amigo de longa data!
Me encanta ver o seu fascínio pelo mar e sua dedicação ao trabalho. É maravilhoso sentir prazer naquilo q fazemos, não achas? Rs... Creio que sua pesquisa ajudará a muitos, que assim como vc, estão ligados à natureza e aos esportes. Desejo, mais uma vez, SUCESSO!!! E lembre-se q te considero pra caramba!!!
Bjs
Kátia